v. 6 n. 2 (2020): PANDEMIA E GÊNERO: COTIDIANO E ESPIRITUALIDADE
O mundo foi surpreendido, em etapas relativamente rápidas, pela pandemia de Covid-19 que trouxe mudanças bruscas na cotidianidade e na vivência espiritual. Passamos por momentos de tensão e preocupação, com expectativas frustradas de retorno e adaptação forçada a novas formas de comunicação. Ao longo dos meses de distanciamento social, nos habituamos a encarar realidades duras como a contagem diária dos contágios e das vítimas de morte de Covid-19, o grande número de pessoas atingidas pelas crises econômica e imigratória, a falta de vagas nas UTIs, índice crescente de violência doméstica, o medo do contágio. Também nos habituamos a um “novo normal”. A vida precisou pausar, observar, recolher e mudar o ritmo, incluir tarefas domésticas e trabalho simultaneamente. E o “novo normal” indicava para ações possivelmente permanentes como o uso de máscara de proteção, reforço na higiene no contato com o espaço público, a criatividade da
convivência e dos momentos de lazer à distância, a legalização do “home office”, e a ampliação da produtividade e do consumo remoto. Por outro lado, experimentamos um tempo em que a vida tinha um limite invisível, o medo paralisou, as doenças psíquicas se acentuaram. Todas essas etapas foram acompanhadas de mudanças na forma de viver o espiritual, que pode ter sido de várias formas desde um mergulho maior em si a um afastamento da espiritualidade comunitária, desde a instrumentalização para vencer o stress até o deixar isso de lado. Queremos refletir, neste dossiê, em algumas questões: qual o impacto da pandemia na vida e na espiritualidade de mulheres? Quais as desigualdades de gênero, as vulnerabilidades e violências que foram aprofundadas? Que formatos de espiritualidade foram desenvolvidos ousados por mulheres para dar conta dessas
questões?