Dossiê - Campereando uma teologia crioula: rastros para uma religião vivida no Sul do mundo

2024-12-21

Na ocasião de sua eleição ao pontificado católico romano, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, disse que seus colegas precisaram ir até o fim do mundo para encontrar um novo Papa. Referindo-se à sua América do Sul natal, Francisco, nesta frase jocosa, acaba por abrir um importante espaço teológico para reflexão e debate. Sendo o novo Papa oriundo do “fim do mundo”, que teologia, eclesiologia e cosmovisão cristã estavam vindo com ele para Roma? Se é verdade que podemos responder em parte a este questionamento olhando para o ministério de Francisco nestes doze anos de pontificado, também é verdade que o “fim do mundo”, o “sul da terra” de onde Bergoglio se origina, ainda é um terreno teológico a ser desvendado.

Lugar marcado por uma paisagem de lonjuras, invernos frios, verões mormacentos e ventos constantes, é berço de diversos povos ameríndios, lugar de acolhida de várias etnias europeias migrantes e destino diaspórico de povos do continente africano. Palco de disputas entre dois reinos católicos, teve forte presença e atuação jesuíta na fundação e manutenção de reduções indígenas, de onde se originaram os sete povos das missões e onde surge o guarani Sepé Tiaraju, uma das maiores devoções populares da região. Nestas latitudes, nas fronteiras sociais e políticas entre o avanço colonizador e a resistência dos povos originários, surgirá uma classe social marginalizada, sem posição ou sobrenome, sem rei e sem Deus: o gaúcho.

Este dossiê, assim, se propõe a reunir contribuições para a discussão de uma possível “teologia crioula”, considerando o termo na acepção utilizada na região de cultura pampeana, que abrange o Rio Grande do Sul, o Uruguai e a Argentina. Sugerem-se abordagens a partir de símbolos, mitos e ritos atávicos da região, como o mate, o fogo, os ventos e demais elementos, buscando reconhecer traços de uma “religião vivida” a partir destes contextos. Nesta linha, pode-se recorrer também às narrativas e músicas folclóricas sulinas, considerando, por exemplo, as contribuições de Atahualpa Yupanqui, Violeta Parra, Mercedes Sosa, Noel Guarany, Cenair Maicá, Vitor Ramil e Bebeto Alves, entre outros, em uma hermenêutica teológica de suas produções. No campo teológico estrito, são bem-vindas abordagens sobre a Teologia Popular da Argentina e a Teologia Latino-Americana em geral, buscando sempre aderência ao recorte estabelecido para o dossiê. Acolhem-se também textos a respeito da religiosidade popular da região, em seus aspectos simbólicos e litúrgicos.

Prazo para submissão do artigo: 10 de junho de 2025
Organização: Dr. Marcelo Ramos Saldanha (EST), Dr. Renato Ferreira Machado (Faculdade Dom Bosco)